Wilson L. Sartori é cofundador da Sombrero Seguros. Há anos trabalhando no mercado de previdência, seguro e resseguro, tem passagens por empresas nacionais e multinacionais, além de participação no desenvolvimento do programa de subvenção (PSR) do Ministério da Agricultura.
Wilson, nos conte um pouco sobre a sua trajetória profissional e como você chegou até a Sombrero.
Minha trajetória no ramo de seguros iniciou em 1994. Eu trabalhava em uma corretora e a área começou a me chamar atenção, apesar de minha formação acadêmica ser voltada para a área rural como Engenheiro Agrônomo. Por não me contentar em aceitar que os clausulados e especificidades de cada ramo fossem como sempre foram, comecei a estudar o que era o seguro em si e, desde lá, trabalhei em diversas empresas – dentre elas, corretoras de seguros e seguradoras – e, também, com grandes clientes para contratações corporativas.
Dez anos depois, em 2004, já no IRB Brasil Re, o seguro rural, por questões estruturais e econômicas, voltou a acontecer no Brasil, com mudanças na legislação. Esse foi um período de muito aprendizado ao lado de grandes mestres, com os quais tive a oportunidade de me profissionalizar e conviver. Como ressegurador estatal, o IRB Brasil Re oportunizou-me participar do processo de construção do Programa de Subvenção ao Seguro Rural. Pude interagir com a Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), o Banco Central e o Banco do Brasil, dentre outros. A partir de 2005, tal programa passou por ajustes devido às necessidades do mercado em função da evolução do agronegócio e do aprendizado acumulado a cada ciclo agrícola. Foi no Ressegurador que conheci Leonardo Paixão, CEO da empresa à época. Em 2016, Leonardo iniciou um novo projeto e convidou a mim e ao Marcio Rios para participar. A evolução e consolidação deste projeto nos permitiu realizar um sonho: estruturar e dar vida a uma nova seguradora, especializada em nichos, com forte pegada tecnológica e inovadora na forma de atuar, utilizando para isso todo o capital intelectual acumulado ao longo de anos de vivência nesse mercado de executivos, conselheiros e investidores, que é a Sombrero Seguros.
Como você vê o Seguro Rural no Brasil hoje?
O Seguro Rural começou a ganhar importância em função de prejuízos decorrentes de eventos climáticos que obrigavam o produtor a renegociar suas dívidas com instituições financeiras. Com isso, o governo federal entendeu que havia a necessidade de fortalecer essa forma de mitigação de perdas. Em 2003, com o novo arcabouço legal, houve transformação, desenvolvimento e inclusão de seguradoras e resseguradoras que, a partir daí, começaram a dar suporte aos riscos de Seguro Rural.
Porém, apesar de já terem se passado 18 anos, o nicho ainda possui muita energia e oportunidades, há muito a ser desenvolvido para se consolidar como um modelo eficiente, povoado de produtos disponíveis aos produtores rurais e sustentável aos players. A Sombrero Seguros surgiu nessa nova dinâmica do mundo digital e de inovação, com a força de um time que possui grande vivência no agro e reúne toda a expertise e know how necessários.
Cada vez mais os eventos climáticos têm atingido grandes regiões produtivas do Brasil. Como você enxerga a função do Seguro Rural na mitigação desse tipo de risco?
O Seguro Rural é a principal ferramenta para mitigação de riscos no caso dos riscos climáticos. Ele entra como um aliado fundamental para a continuidade da atividade e para a manutenção do produtor rural no campo. Afinal, não podemos controlar os eventos naturais e, por estarem fora do nosso alcance, a melhor alternativa para driblar possíveis prejuízos realmente é o Seguro Rural. Em suma, de parte da seguradora, é preciso ter sempre em mente o que não devemos fazer quando trata-se de subscrição de Seguro Rural, pois o clima é incontrolável e os efeitos são sistêmicos e catastróficos economicamente para as empresas e sociedade quando ocorrem de forma severa, o que tem sido recorrente diante das mudanças climáticas que se observam no mundo.
Quais seriam suas dicas para o produtor rural na hora de escolher um Seguro?
É fundamental o produtor ter a percepção de que o Seguro Rural faz parte do sucesso da sua atividade. Ele não pode ser visto apenas como custo adicional, mas como um investimento para a estabilidade de renda e a manutenção econômica do empreendimento.
O produtor rural vive de forma intensa, dinâmica e cercado de incertezas. Na safra de inverno, já está negociando os insumos para começar em setembro a safra de verão. Todo esse ciclo pode ser virtuoso se o Seguro Rural fizer parte como mais uma ferramenta de proteção da atividade profissional. Assim como o produtor opta por uma boa semente, bons equipamentos e uma boa assistência técnica, é fundamental buscar, na hora de escolher um seguro, um corretor especializado para ser seu consultor. O corretor de seguros tem esse papel de identificar qual o melhor produto para atender a necessidade de cada produtor rural.
Qual o papel do Estado perante os produtores rurais, uma vez que sua atividade é de suma importância para a economia brasileira?
Em função do viés de perdas catastróficas que o Seguro Rural possui, os prêmios são elevados e ele precisa do suporte do Estado para aproximar a oferta da demanda. No mercado brasileiro, isso é feito através de programas federal, estadual – casos de Paraná e São Paulo – e municipal, em alguns casos.
Os riscos climáticos trazem consigo consequências econômicas graves quando não se tem o Seguro Rural. Basta ampliarmos a visão e simplesmente reconhecermos que qualquer indústria tem em seu planejamento a contratação de seguros patrimoniais, de saúde, de vida etc.
Muitos municípios do Brasil vivem essencialmente do agronegócio, então o Estado (governos federal, estadual e municipal) tem um papel relevante, principalmente quando se pretende evitar que economias regionais sejam comprometidas diante de catástrofes climáticas.
O Estado tem interesse pois o agronegócio tem participação importante na economia brasileira. Manter essa atividade econômica estável no longo prazo deve ser prioridade.
A Rússia e a Ucrânia estão entre os principais fornecedores de fertilizantes agrícolas para o Brasil. Com o conflito entre os dois países, esse fornecimento foi prejudicado. Quais impactos poderão ocorrer no mercado de seguros brasileiro?
Hoje tem–se discutido muito essa questão, pois o seguro é intrínseco à economia. A primeira atividade econômica afetada em situações de crise, como alta inflação ou desemprego, é o seguro. No caso, em função da guerra na Ucrânia e da dependência brasileira da importação desses insumos agrícolas, estamos fazendo uma análise diante de um cenário de muita incerteza, considerando todas as hipóteses para a comercialização da próxima safra de verão 22/23, que deverá sofrer os impactos caso a questão não se resolva em breve.
O próprio Ministério da Agricultura tem buscado suprir essa necessidade através da importação de fertilizantes de outros países fornecedores, mas o que se observa é uma forte pressão de alta no custo de produção, aumento do preço futuro das commodities e expectativa de redução de produtividade e, consequentemente, do estoque dos principais cereais em nível mundial.
Nós, da indústria de seguros, estamos avaliando como vamos fornecer cobertura. É preciso ter um cenário mais claro de como o produtor rural, cooperativas, revendas, tradings, indústrias químicas etc., que compõem essa cadeia da qual também somos parte, incluirão isso na conta, caso se confirme a hipótese da insuficiência de insumos para a produção e para o cultivo das lavouras de verão. Estamos nos preparando, buscando informações, realizando diversas reuniões para analisar todo o contexto e chegar às conclusões de como oferecer condições de coberturas para a safra de verão que vai ter, em especial, essa dificuldade. Desejamos prioritariamente, por razões óbvias, que a guerra termine o quanto antes, pois a vida humana está acima de qualquer outra coisa. Caso por infortúnio isso não ocorra ou se prolongue, o governo federal deverá buscar alternativas de suprimento para que isso não impacte a produção de grãos de maneira drástica.
Para finalizar, uma mensagem sua em nome da Sombrero para os produtores rurais.
Vivemos em um momento de incertezas e, em contrapartida a tudo isso, a Sombrero Seguros trabalha incessantemente para disponibilizar proteção para as próximas safras. Buscamos negociar com o mercado ressegurador condições que sejam aderentes e façam sentido, para que o produtor rural encontre junto ao seu corretor de seguros os produtos de que precisará para estar protegido.
Acredito que em um cenário próximo superaremos as dificuldades que se apresentam, desde que cada elo dessa cadeia empregue seu máximo de esforço para encontrarmos o melhor caminho. Manifesto sincero desejo de que tenhamos sucesso neste objetivo e que consigamos obter um bom resultado na próxima safra de verão. Forte abraço.